terça-feira, dezembro 27, 2005

In the future, everybody will be a polling expert for fifteen minutes

De Mark Blumenthal, o Mystery Pollster cuja existência inspirou a criação desta modesta casa, um artigo (de acesso livre) na Public Opinion Quarterly, sobre o papel da internet em geral e da blogosfera em particular na difusão, discussão e melhoria dos métodos das sondagens, num número todo ele dedicado ao tema. Sinto-me como um filho orgulhoso dos feitos do pai.

Congratulations!

Mourinho na London Review of Books

Através do Bem Haja, chego a uma recensão de um livro sobre José Mourinho, escrita por David Runciman, professor de teoria política em Cambridge. Muito boa.

segunda-feira, dezembro 26, 2005

Tendências

É possível, contudo, que parte do que estamos a observar em termos de diferenças entre as sondagens se deva não apenas ao erro amostral ou a discrepâncias entre os instrumentos usados pelos diferentes institutos nos diferentes momentos, mas sim a uma real mudança nas intenções de voto válidas ao longo do tempo (causadas quer por mudanças de intenção de voto de um candidato para outro quer pela "entrada" ou "saída" de indivíduos das categorias de "indecisão" ou "abstenção).

Os gráficos seguintes permitem-nos apreciar visualmente a plausibilidade desta hipótese genérica. Vou manter isto também simples, para benefício de todos incluindo eu próprio, que tenho lacunas importantes de formação técnica quando de trata de analisar séries temporais.

A linha sólida é a que melhor se ajusta aos dados na pressuposição de uma relação linear entre a passagem do tempo e o resultado das sondagens. A vantagem desta análise consiste em que podemos ver até que ponto as diferenças entre sondagens podem ser tratadas mero "ruído" em relação a uma tendência geral. A desvantagem, claro, é a pressuposição de uma relação de linearidade entre a passagem do tempo e as intenções de voto, pressuposição essa que pode ocultar outro tipo de tendências. A curva tracejada resulta de uma regressão polinomial ponderada loess (ou "regressão local") aos dados, em que os pontos da curva são previstos pelas observações imediatamente adjacentes (e não por todas as observações, o que resultaria numa linha igual à da regressão linear). Vantagens e desvantagens são simétricas em relação as associadas à pressuposição de linearidade: sensibilidade a evoluções não lineares, mas excessiva sensibilidade a mudanças de curto prazo e "outliers".


A tendência de subida de Soares desde meados de Outubro é muito clara. A passagem do tempo explica mais de metade da variância nos resultados e, apesar das diferenças claras entre institutos (Eurosondagem sempre mais lisonjeira, Marktest e Aximage sempre menos), a subida é constante para todos.

Alegre desce. Os efeitos da passagem do tempo são menores que no caso de Soares e os dados ajustam-se menos bem à pressuposição de linearidade, mas a tendência está lá e também é estatisticamente significativa.


Jerónimo e Louçã estão estáveis, apesar de, como já sabemos, os resultados de Louçã exibirem maior dispersão. Mas essa dispersão terá de ter outra explicação que não o factor tempo.


Os resultados de Cavaco são os mais intrigantes. Grande dispersão, compreensível tendo em conta as maiores margens de erro. Linearmente, uma descida mas, no máximo, ultra-lenta e, na verdade, carecendo de significância estatística (até agora). Mas grandes outliers: Eurosondagem (em Novembro e agora esta última), Aximage (Outubro e esta última), o IPAM (na sondagem para o Diário de Coimbra). Inconsistência de tendências no interior de cada instituto: descida seguida de subida na Aximage, subida seguida de descida na Eurosondagem, descida seguida de subida na Marktest.

As dúvidas não são resolvidas olhando para os resultados brutos. Em regra, não olho para eles porque creio que há opções técnicas que influenciam dramaticamente a percentagem de indecisos e abstencionistas captados pelas diferentes sondagens, quer entre institutos quer entre sondagens feitas pelos mesmos institutos. Contudo, ignorando isso, a análise deste quadro mostra as "intenções directas" de voto a descerem continuamente na Marktest, a descerem e depois a subirem na Aximage e a subirem para logo depois descerem na Eurosondagem.

Assim, em síntese:
1. Sinais muito claros de subida para Soares, com dispersão grandemente explicada pela passagem do tempo;
2. Sinais claros de descida para Alegre;
3. Estabilidade genérica para Jerónimo e Louçã, mas maior incerteza para o segundo;
4. Incógnita (e, à falta de melhor, estabilidade) para Cavaco.

Em Janeiro voltamos a falar.

Dispersão

Uma das maneiras de interpretar os resultados de diferentes sondagens é olhar para a sua dispersão. Deste ponto de vista, o analista não faz qualquer pressuposição sobre a existência de efeitos sobre as estimativas resultantes da passagem do tempo, dos eventos políticos ou de qualquer outra dinâmica da campanha. No máximo, pressupõe que esses efeitos são erráticos, impossíveis de determinar ou negligenciáveis em relação às restantes fontes de erro, fontes essas ligadas quer ao facto de se usarem amostras para fazer inferências sobre o universo quer à miríade de factores (questionários usados, ordem das perguntas, etc, etc, etc) que podem produzir erro não amostral. Assim, o analista limita-se a constatar que há estimativas diferentes que resultam da medição da intenção de voto nas presidenciais e interpreta a sua maior ou menor dispersão como medida de uma maior ou menor incerteza acerca das intenções de voto num determinado candidato.

Quero manter isto o mais simples possível, e por isso abordo a questão da dispersão dos resultados para cada candidato consiste calculando simplesmente a amplitude (a diferença entre os resultados máximos e mínimo) e o desvio-padrão (distância em relação ao valor médio dentro da qual se encontram 68% das observações). Como se vê no gráfico seguinte, os resultados que vêm exibindo maior dispersão são os atribuidos pelas sondagens a Cavaco Silva e Mário Soares.
















Contudo, feita assim, a comparação entre os candidatos é enganadora. Por exemplo, seria sempre de esperar que a dispersão obtida para os resultados de Cavaco Silva fosse elevada em comparação com a obtida para os restantes candidatos, dado que a margem de erro amostral é tanto maior quanto mais próximos os resultados estejam de 50%.

Logo, uma maneira melhor de comparar a dispersão dos resultados é comparar aquela que se verifica nos resultados com a que deveria ser esperada se a única fonte de diferenças entre as sondagens fosse a margem de erro amostral. Para esse efeito, calculei a amplitude esperada em torno da estimativa média para cada candidato causada pelo erro amostral para uma amostra de 945 (a média da dimensão das amostras nas 14 sondagens publicadas até ao momento) e, de seguida, dividi a amplitude real por essa amplitude esperada para cada candidato:


Como se interpreta este gráfico? A diferença entre os resultados máximo e mínimo obtidos pelas sondagens para Mário Soares é 2,3 vezes superior ao que seria de esperar caso a única fonte de discrepâncias entre as sondagens fosse o erro amostral. No extremo oposto, temos Jerónimo de Sousa, cujos resultados nas 14 sondagens publicadas até ao momento têm estado quase todos dentro das variações expectáveis tendo em conta o erro amostral.

Por outras palavras: na hipótese de que não se consiga apoiar com os dados disponíveis qualquer teoria plausível sobre como a passagem do tempo está a determinar variações entre os resultados obtidos para cada candidato ou sobre como a utilização de determinadas opções técnicas está a conduzir a enviesamentos em relação à realidade, o maior nível de incerteza existe em relação às intenções válidas de voto em Mário Soares, cujos resultados exibem disparidades muito superiores ao que seria de esperar tendo apenas em conta o erro amostral associado às várias estimativas. Apesar da variação nos resultados de Cavaco Silva ser, em absoluto, igualmente grande, ela é bastante menos significativa, tendo em conta que se estão a estimar resultados mais próximos dos 50%.

Actualização

Quadro com sondagem SIC/Eurosondagem:



Título da notícia: Vitória à primeira garantida.

É extraordinário como, neste título com apenas quatro palavras, se consegue, pegando numa sondagem feita a um mês da eleição, interpretar a estimativa pontual obtida como indicando um "resultado eleitoral garantido", e ainda por cima não perceber que aquilo que a sondagem diz é que, tendo apenas em conta a margem de erro amostral, a inferência para o universo é que Cavaco terá neste momento entre 49% e 55% de intenções de votos válidas.

Sim e sim

Sobre os efeitos dos debates:

No Blogo Existo:
Como se torna evidente quando ouvimos as pessoas discutir o debate, uma pergunta dessas pode ser entendida de várias maneiras. Eis algumas:
1. Quem acha que revelou maior capacidade de argumentação?
2. Quem acha que foi mais convincente?
3. Quem acha que se defendeu melhor?
4. Quem o convenceu a si?
5. Quem acha que convenceu os outros?
6. Quem conseguiu alterar a seu favor a opinião do eleitorado?

Ontem, logo após o debate, o Director do Público opinou que a vitória táctica foi de Soares, mas a vitória estratégica foi de Cavaco. Entendo perfeitamente o que ele quer dizer, mas fico a pensar como responderia JM Fernandes à sondagem realizada.A ideia de perguntar às pessoas se mudaram de opinião em função do debate parece boa, mas tampouco funciona. Poucas pessoas estarão disponíveis para admitir que um mero debate inflectiu o seu sentido de voto, porque isso fá-las parecer algo volúveis, ou mesmo tontas.


De um leitor do Bloguítica:
Procurando acrescentar um dado adicional à questão, refiro que o resultado de um debate pode alterar-se de dia para dia. Isto é, na noite do debate pode ser um determinado resultado, no dia seguinte outro e assim sucessivamente. Nos estudos que costumo promover, só me "decido" acerca do resultado de um debate (por exemplo) ao fim de 4 ou 5 dias, isto é, enquanto avalio se as opiniões dos inquiridos não foram alteradas por outros acontecimentos. Os resultados vão-se alterando de dia para dia, em parte certamente pelas circunstâncias do próprio estudo, mas em parte também pelos comentários entretanto produzidos, pelas repercussões nos outros media, pelas repetições do best of nas várias televisões. Mas, em parte também porque o racional vai-se sobrepondo ao emocional, isto é, as pessoas deixam de olhar para o debate pelo debate propriamente dito e passam a reflectir sobre o debate em função dos seus objectivos políticos – intenções de voto.

sexta-feira, dezembro 23, 2005

Síntese

Apesar das dúvidas, aqui fica o quadro actualizado (hoje à noite será conhecida mais uma, mas atendo-lhe para a semana):



Bom Natal..

O debate

Na sondagem da Aximage, cujo universo é o dos eleitores residentes em Portugal em lares com telefone fixo, 82,5% dos inquiridos manifestam uma opinião sobre "quem esteve melhor" no debate Soares/Cavaco (com manifesta vantagem para Cavaco, 58,3% contra 24,1%). A acreditar nos dados da audiometria, que apontam para 14,6% de audiência média, e mesmo contando com o facto de esta última se reportar, suponho, ao total da população (incluindo não eleitores), isto só pode significar que a maioria dos eleitores formou uma opinião sobre quem esteve melhor no debate sem sequer lhe ter assistido. E pensando bem, por que não?

As sondagens de hoje: resultados e dúvidas

Foi divulgada ontem uma sondagem da Intercampus para a TVI, seguida de outra hoje da Aximage para o Correio da Manhã. Confesso-vos que eu próprio já não me consigo ler nem ouvir a escrever ou a falar sobre estas coisas, e não estranharei se a vossa paciência já se tiver esgotado há muito. Mas vejamos:

1. Intercampus, TVI, 22 de Dezembro: temos os resultados brutos. Os "não sabe/não responde" e dos "não vou votar" são agregados numa mesma categoria (14,5%). Depois apresentam-se os resultados após uma redistribuição de indecisos onde são tratados como abstencionistas. As minhas contas dão uma diferença de uma décima em dois dos candidatos, mas tudo bem: está tudo claro e bem explicado.

Mais confuso é o tratamento da notícia pela TVI. Escreve-se o seguinte:

De acordo com a sondagem Intercampus/TVI, se as eleições fossem hoje e tendo em conta os indecisos, o candidato da direita venceria com 45,6 por cento dos votos, um resultado que não chega para se eleito Presidente da República.

Bem, mas logo a seguir escreve-se:

Na verdade, e de acordo com a sondagem Intercampus/TVI, retirando os indecisos, Cavaco Silva obtém 53,3 por cento dos votos, um resultado que tendo em conta a margem de erro da sondagem garante a eleição à primeira volta.

Que confusão. Outro problema é que a TVI continua a não informar na ficha técnica como selecciona os locais do país onde escolhe alojamentos, como escolhe esses alojamentos onde faz inquéritos nem como selecciona os inquiridos dentro de cada alojamento, ou seja, não descreve o método de amostragem. Como calculo que não seja nada que não se possa explicar de forma relativamente simples, não seria melhor fazê-lo? Já agora, interpreto "entrevista directa e pessoal" como significando que foi um inquérito face-a-face, presencial. A ser assim, trata-se do primeiro do género divulgado na comunicação social desde que todos os principais candidatos estão confirmados.


2. Aximage, CM, 23 de Dezembro: Temos, na página 8, um gráfico de "tarte" com os resultados brutos, a saber:

Cavaco Silva: 56,5%
Mário Soares: 11,4%
Manuel Alegre: 10,3%
Jerónimo de Sousa: 3,7%
Francisco Louçã: 3,4%
Outros: 0,9%
Indecisos: 13,8%

A soma disto dá 100%. São apresentadas também estimativas para, cito, os "votos sem indecisos". Não se faz menção a qualquer método específico de redistribuição, pelo que a primeira interpretação possível é a de que as percentagens foram recalculadas redistribuindo proporcionalmente os indecisos pelos votos válidos, ou seja, tratando-os como abstencionistas. Os resultados apresentados no jornal são os seguintes:

Cavaco Silva: 61%
Mário Soares: 17,1%
Manuel Alegre: 13,1%
Jerónimo de Sousa: 4%
Francisco Louçã: 3,8%
Outros: 1%

Como se chegou a estes números? Não sei, mas sei outra coisa: de certeza que não foi redistribuindo os 13,8% indecisos proporcionalmente pelas restantes opções. Se assim tivesse sido, os resultados teriam sido estes:

Cavaco Silva: 65,5%
Mário Soares: 13,2%
Manuel Alegre: 11,9%
Jerónimo de Sousa: 4,3%
Francisco Louçã: 3,9%
Outros: 1,0%

Não passa de uma regra de três simples, simples mesmo: no caso de Cavaco, 56,5 está para 86,2 (100-13,8) como x está para 100. X é igual a 56,5*100/86,2=65,5. Para os outros é só repetir a operação. É possível que esteja a ver a coisa mal mas, sinceramente, não creio. Logo, das duas uma: ou a Aximage e/ou o Correio da Manhã se enganaram nas contas, ou usam um método de redistribuição diferente deste, mas que não é explicado.

Vou supor que estamos perante o segundo caso, aceitando como "bons" - respeitando as decisões de quem apresenta os dados - os resultados "sem indecisos" apresentados pelo jornal. Contudo, sendo assim, acho que teria sido melhor ter-se explicado o método de redistribuição de indecisos usado.

E mais uma vez, desculpem o que pode parecer excesso de zelo, mas eu só quero perceber bem o que é feito para obter estes resultados, e assim não se vai lá.

quarta-feira, dezembro 21, 2005

Actualização

Como prometido, a actualização dos resultados na base dos dados que me foram enviados ontem pela Marktest. Para além disso, incluo uma nova sondagem, de cuja publicação não me tinha apercebido, realizada pela GEMEO/IPAM e publicada no Diário de Coimbra.



A evolução da "poll of polls" (média móvel das últimas três sondagens) fica assim:



Sobre os debates:

1. Sondagem Eurosondagem, Telefónica, 780 entrevistas:
Mário Soares: 25%
Cavaco Silva: 23,7%
Não sabe/Não responde/ não assistiu: 51,3%

2. O post do Bloguítica sobre os debates e as sondagens exprime dúvidas sobre a utilidade da informação sobre o "vencedor" do debate, afirmando que o interessante seria saber "independentemente de quem foi o vencedor, na sequência dos debates, no universo dos sondados, quem é que mudou de orientação de voto? Mudou como? Que percentagem?".

Estou completamente de acordo, como aliás se depreende do que escrevi aqui, aqui e aqui. E para que a sondagem fosse mais útil, nem se tratava exactamente de fazer o que diz aqui o Ivan - "estratificar" a amostra por identificação partidária ou posicionamento ideológico - mas, tão só ... de perguntar qual essa identificação e posicionamento. A partir daí, teria sido possível ficar a conhecer que amostra temos desse ponto de vista, e a forma diferencial como a direita e a esquerda e os eleitores dos diversos partidos viram o debate.

Um exemplo, muito simplista mas que pode servir: estes resultados agregados obtidos na sondagem sobre o "vencedor" do debate podem ter acontecido porque a esmagadora maioria dos eleitores do PS e a maior parte dos eleitores sem identificação partidária ou "centristas" deram a vitória a Mário Soares. Isso significaria um excelente resultado para esse candidato, dado que é esse eleitorado que tem tido dificuldade em hegemonizar (os eleitores do PS, havendo uma parte deles que tem afirmado tencionar votar Cavaco) ou sequer atingir (os eleitores sem simpatias partidárias claras).

Mas os mesmos resultados na sondagem podem ter ocorrido apenas porque os actuais eleitores de Soares e dos restantes candidatos de esquerda deram a vitória a Soares por mera hostilidade genérica a Cavaco, sem que isso implique a capacidade de atingir o eleitorado que pode fazer a diferença. Mas nada sabemos sobre isto, porque a sondagem nada mais perguntou, aparentemente, do que "quem ganhou".

Dito isto, é evidente que o resultado, em si mesmo, enquanto facto político, pode não ser destituído de consequências, servindo potencialmente para galvanizar a candidatura de Soares e os seus apoiantes ou, por exemplo, para aumentar a percepção entre os eleitores de esquerda de que é o único adversário viável de Cavaco (minando assim, especialmente, a candidatura de Alegre). Mas isso seria ainda mais difícil de medir e apreciar.

terça-feira, dezembro 20, 2005

Marktest, resultados brutos

Neste post, mencionei de passagem que "a Marktest, sempre tão certinha na apresentação completa dos resultados brutos, esqueceu-se de o fazer desta vez."

Recebi dois e-mails, ambos muito amáveis. Um, de Luis Queirós, da Marktest, que me envia a ficha técnica completa depositada na AACS. Outro, de João Fernandes, do DN, onde se me rectifica a informação, dizendo que "os resultados brutos estão no DN".

Das duas uma: ou eu me enganei (e já não tenho comigo o DN para confirmar) ou então não me fiz entender. O que vi no DN foi um gráfico com os resultados brutos, mas não completos, ou seja, faltando-lhes a percentagem de inquiridos que declararam não tencionar votar e que declararam tencionar votar em branco (e/ou nulo). Daí que tenha deixado ambos os campos no meu quadro com um ponto de interrogação.

Desculpem o excesso de zelo, mas só acontece porque a Marktest nos habituou a fichas técnicas impecáveis. Mas é possível que não tenha visto bem. Será?

Seja como for, aqui vai o que faltava:

Não voto: 4,2%
Voto em branco:2,6%

E se quiserem a desgregação dos "ns/nr":

Ns:16,9%
Nr:4,7%

Amanhã actualizo o quadro.

Petição

O autor deste blogue pede, ou melhor, implora à SIC e à Eurosondagem que, dado terem decido empregar os seus recursos técnicos e financeiros na realização de sondagens após o debates com o fim de determinar quem foi o vencedor, não se esqueçam hoje de colocar alguma pergunta que permita caracterizar e desagregar a amostra do ponto de vista político ou ideológico, de forma a se poder saber, no mínimo dos mínimos, as percepções dos eleitores por identificação partidária, posicionamento ideológico, ou qualquer coisa do género. Aquela coisa da semana passada do "esquerda", "centro-esquerda", etc, já não era mau. É só uma pergunta. Vá lá.

Assinado,
A Gerência

Notas soltas sobre a sondagem Marktest

Algumas notas adicionais sobre esta sondagem, aproveitando comentários que já circulam na blogosfera:

1. Quem por aqui passa sabe que raramente cito as sondagens presidenciais que vão sendo divulgadas. Trata-se de uma questão de prudência e nada mais. Não posso, no entanto, deixar de ecoar os resultados da mais recente sondagem DN/TSF que dá 16% a Manuel Alegre e 13% a Mário Soares (Lusa, 20.12.2005).Depois dos polémicos -- ou talvez não, veremos... -- valores da Eurosondagem de Rui Oliveira e Costa, resta aguardar pelos próximos resultados, desta vez julgo que fornecidos pela sondagem da Universidade Católica (in Bloguítica)

Por lapso, o Paulo Gorjão colocou resultados errados no seu post. Os correctos são, arrendondando, 16% para Manuel Alegre e 15% para Mário Soares. Quanto ao resto, não creio que a sondagem da Católica seja a próxima a ser divulgada: em princípio, segundo entendi na SIC Notícias na passada 6ª feira, haverá mais uma sondagem no Expresso no próximo Sábado. E A Católica é depois disso...


2. Os números em bruto desta sondagem mostram uma subida do número de indecisos, que este mês atingem 21,6% dos inquiridos (in Super Mário).

Não creio que esses valores sejam comparáveis aos da sondagem anterior. A sondagem anterior foi feita no quadro do Barómetro Marktest, um inquérito longo que, imagino, gera uma elevada taxa de recusas à partida - recusas de inquiridos em fazerem parte da amostra - e que, por isso, surge com um baixa percentagem de inquiridos "ns/nr" (porque muitos já foram excluídos à partida). Esta sondagem, pelo contrário, parece ser, pela ficha técnica, uma sondagem curta e dedicada exclusivamente ao tema "presidenciais". Isso deverá ter levado a uma maior taxa de resposta ao inquérito mas, depois, a uma comparativamente mais elevada percentagem de inquiridos que recusam responder à pergunta sobre intenção de voto. É a minha suposição, mas só a Marktest poderá responder cabalmente a isto. Já agora, a Marktest, sempre tão certinha na apresentação completa dos resultados brutos, esqueceu-se de o fazer desta vez...

3. Discrepâncias entre sondagens, para aqueles que com elas se inquietam. A minha sugestão é que leiam o que se segue, se puderem várias vezes, e assim escusam de me ouvir perorar novamente - e com muito menos competência - sobre o assunto:

All polls are subject to sampling errors, so two polls taken under identical conditions will vary by a highly predictable amount. That variation depends on the sample size (and sample design) and the variability in the population. Polls also vary due to non-sampling errors. These come from question wording, order of questions in the survey, "house" effects due to different procedures across polling organizations, response errors and "everything else" that can lead to error in a poll. The combination of sampling and non-sampling error is often referred to as "total survey error". The problem is that we have well established formulas for calculating sampling error, but the modeling of non-sampling errors is much harder and lacks the formal properties that sampling errors possess. Sampling error reflects the variation in polls we'd find if there were no non-sampling errors. Total survey error reflects the actual variability we see.
(...)
Every polling organization can produce results that are outliers. What is important is spotting them and putting them in proper perspective. That is far more desirable than suppressing the results or pointing to them as examples of "bias". What matters is performance over the long term, not in any single sample.

Marktest, Presidenciais, 20 de Dezembro

Divulgada hoje a sondagem Marktest para o DN e a TSF:



A evolução da média móvel das últimas três sondagens fica assim:



Em relação às sondagens anteriores, duas confirmações: uma sobre tendências, e outra sobre a impossibilidade de inferências.

A tendência já tinha sido assinalada aqui e aqui: a subida de Soares e a descida de Alegre. Ela vê-se na comparação das sondagens Aximage entre si (Alegre de 19% para 14%, Soares de 12% para 17%), Eurosondagem (Alegre de 16,9% para 12,5%, Soares de 18% para 20,4%) e, agora, Marktest (Alegre de 19% para 16,2%, Soares de 13% para 14,8%). É demasiada regularidade para ser coincidência.

A impossibilidade de inferência já tinha sido assinalada aqui: "em rigor, acho que ninguém pode dizer com segurança quem recolhe, neste momento, mais intenções válidas de voto, Alegre ou Soares." É certo que, se a tendência anterior continuar, esta questão poderá resolver-se em breve. Mas as diferenças entre os resultados dos diferentes institutos continuam a ser muito grandes e, nalguns casos, em sentidos contraditórios, para além do facto de esta sondagem da Marktest ser, das cinco sondagens mais recentes, a terceira que coloca os dois candidatos a uma diferença inferior à margem de erro amostral.

Lá em "cima", tudo na mesma...

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Antes da gritaria

O que fazer quando uma sondagem apresenta um resultado desviante em relação à maioria dos restantes estudos publicados? Em Portugal, grita-se muito. Noutros sítios, estuda-se e trabalha-se. Dois exemplos da segunda modalidade, aqui, no sítio cada vez mais do costume, e aqui, num que vai passar a ser. Vou ver se aprendo mais qualquer coisa.

Ainda sobre a última sondagem

Pergunta-se no Insurgente:

Será lícito dar conhecimento antecipado a terceiros de uma sondagem encomendada por entidades privadas (SIC, Expresso e Rádio Renascença)?

Não sendo jurista, a minha interpretação é esta:

1. Quando a sondagem eleitoral é realizada para "pessoas colectivas públicas ou sociedades de capitais exclusiva ou maioritariamente públicos", dar conhecimento dos resultados e de toda a ficha técnica a "terceiros" (os definidos na lei) é mais do que lícito: é um dever.

Lei 10/2000, Art. 12.º Comunicação da sondagem aos interessados. Sempre que a sondagem de opinião seja realizada para pessoas colectivas públicas ou sociedades de capitais exclusiva ou maioritariamente públicos, as informações constantes da ficha técnica prevista no artigo 6.º devem ser comunicadas aos órgãos, entidades ou candidaturas directamente envolvidos nos resultados apresentados.

2. A lei não contém nem um dever nem uma proibição de divulgação a terceiros de sondagens eleitorais realizadas para entidades privadas. O que terá certamente de suceder sempre é que:
- essa sondagem, se for publicamente divulgada, terá de ter sido previamente depositada na AACS;
- essa sondagem, se for publicamente divulgada, não o pode ser mais do que 15 dias depois da realização do respectivo trabalho de campo.

Lei 10/2000, Art. 5.º Depósito. A publicação ou difusão pública de qualquer sondagem de opinião apenas é permitida após o depósito desta, junto da Alta Autoridade para a Comunicação Social, acompanhada da ficha técnica a que se refere o artigo seguinte.

Lei 10/2000, Art. Artigo 10.º, nº 3: Nos dois meses que antecedem a realização de qualquer acto eleitoral relacionado com os órgãos abrangidos pelo disposto no n.º 1 do artigo 1.º e da votação para referendo nacional, regional ou local, a primeira publicação ou difusão pública de sondagens de opinião deve ocorrer até 15 dias a contar da data em que terminaram os trabalhos de recolha de informação.


3. No entanto, a lei menciona também que "as entidades credenciadas devem garantir que os técnicos que, sob a sua responsabilidade ou por sua conta, realizem sondagens de opinião ou inquéritos e interpretem tecnicamente os resultados obtidos observam os códigos de conduta da profissão internacionalmente reconhecidos," nomeadamente o código de conduta da ESOMAR (que pode ser descarregado aqui). Nesse código diz-se o seguinte:

"20. The following records remain the property of the client and must not be disclosed by the researcher to any third party without the client's permission:
(...)
b) the research data and findings from a marketing research project"

Pelo que se conclui que os resultados de uma sondagem não podem ser transmitidos a terceiros pela empresa/instituto que faz a sondagem sem o consentimento do cliente, mas que, obviamente, o podem ser desde que esse consentimento exista. E que, como é óbvio, podem ser transmitidos pelo cliente a terceiros se assim o entender.

Um elemento adicional: assim que os resultados de uma sondagem começam a circular por redacções de órgãos de comunicação, a probabilidade de que cheguem rapidamente às mãos de partidos ou candidatos é elevadíssima, mesmo que não haja uma decisão da direcção do órgão de comunicação social nesse sentido...

Arrumar a casa

sábado, dezembro 17, 2005

Eurosondagem, Presidenciais, 17 Dezembro

Cá está ela, fonte de controvérsia antecipada. Foi telefónica, realizada entre 11 e 14 de Dezembro, 2069 inquéritos, selecção aleatória estratificada por região de domicílios e aleatória de inquiridos em cada domicílio.

Cavaco Silva: 55,5%
Mário Soares: 20,4%
Manuel Alegre: 12,5%
Jerónimo de Sousa: 5,7%
Francisco Louçã: 4,8%
Outros:1,1%

Ao que parece, a candidatura da Manuel Alegre decidiu fazer uma participação à Comissão Nacional de Eleições e à Alta Autoridade para a Comunicação Social devido ao facto de, na anterior sondagem, a Eurosondagem não ter contemplado o cenário de desistência dos restantes candidatos de esquerda para Manuel Alegre. O dono da Eurosondagem, Rui Oliveira e Costa, pondera um processo judicial. Mas claro que isto só vem agora ao de cima devido à divulgação desta sondagem, cujos resultados são assim indirectamente contestados por Manuel Alegre (que ontem afirmava à imprensa que a Eurosondagem se "especializa" em colocá-lo em 3ª lugar), numa controvérsia para a qual as declarações algo estranhas de Jorge Coelho (que há dias anunciava o 2º lugar de Mário Soares nas sondagens que seriam divulgadas "nas próximas semanas") terá dado inestimável contributo.

Enfim, a confusão do costume. O que posso dizer é o mesmo que qualquer observador exterior a isto tudo poderia: quando olhamos para os resultados desta sondagem e os confrontamos com as anteriores, não se detecta nada de estranho. Pelo contrário. O que ela faz é, aparentemente, adicionar uma observação confirmatória de uma tendência já anteriormente detectada: a diminuição das intenções válidas de voto em Manuel Alegre e correspondente aumento das intenções válidas de voto em Mário Soares. É isso que as últimas sondagens da Católica e da Intercampus já estavam a dizer (ao colocarem os dois candidatos praticamente empatados, em contraste com quase todas as sondagens anteriores) e que a última da Aximage confirmou (ao colocar já Soares à frente de Alegre). Tanto barulho por nada. Abaixo, podem examinar o gráfico com a média móvel dos resultados das últimas três sondagens para cada candidato:

sexta-feira, dezembro 16, 2005

"Nas próximas semanas"...

Não assisti à Quadratura do Círculo e não encontro transcrições, mas segundo a TSF Jorge Coelho terá invocado "as sondagens já publicadas ou a publicar 'nas próximas semanas' e que colocam o ex-Presidente em segundo lugar" como fundamento da desistência dos restantes candidatos de esquerda.

Confesso que acho censuráveis - e já o escrevi aqui - algumas das acusações de "manipulação" das sondagens que têm emanado da candidatura de Manuel Alegre. Mas quando se fala em "sondagens a publicar nas próximas semanas" como se já se conhecessem os seus resultados, então já não se pode estranhar que Manuel Alegre venha depois falar em "sondagens falsificadas", "jogo sujo" e "manipulação".

Para já não falar do facto de estas declarações serem em si mesmas um erro político, dado que, com elas, Jorge Coelho terá diminuído o potencial impacto favorável à candidatura de Soares da sondagem que deverá sair amanhã, e cujos resultados, na base destas conversas, já todos conseguiremos adivinhar.

Enfim, palavras para quê, são artistas portugueses.

quinta-feira, dezembro 15, 2005

Debates e sondagens

Há dias, na RTP-N, Manuel Villaverde Cabral lamentava a falta de sondagens que nos pudessem ajudar a aferir o impacto dos debates. Tem toda a razão. E a verdade é que, em rigor, já existem sondagens sobre os debates. Duas, que eu saiba, até ao momento:

1. Eurosondagem, 5 Dezembro, N=769, Telefónica
Quem ganhou o debate Alegre-Cavaco?
Cavaco: 27,3%
Alegre: 15,7%
Não viu/não sabe/não responde: 57%

2. Eurosondagem, 14 Dezembro, N=757, Telefónica
Quem ganhou o debate Alegre-Soares?
Alegre: 20,7%
Soares: 19,3%
Não viu/não sabe/não responde: 60%

Agora não entendam mal o que vou escrever de seguida. Acho que o esforço financeiro feito pela SIC e o esforço técnico feito pela Eurosondagem para conseguirem conduzir trabalhos como estes em tão pouco espaço de tempo merecem elogios. Mas há alguns problemas.

Em primeiro lugar, quando se fazem inferências para a população, estes resultados sugerem que, por exemplo na sondagem do dia 5, pelo menos cerca de 40% dos portugueses com 18 ou mais anos assitiram ao debate Cavaco-Alegre. Isto não é, nem pouco mais ou menos, credível. Segundo os dados da telemetria - extrapolados para o universo - o debate Alegre-Cavaco teve 1,5 milhões de espectadores. Mesmo que todos eles tivessem mais de 18 anos, isto representa menos de 20% do universo relevante. Estas amostras sub-representam os eleitores que não assitistiram aos debates ou (pior) estão a recolher opiniões de pessoas que, de facto, não lhes assistiram.

Partamos do princípio, no entanto, que essa distorção da amostra não representa um enviesamento da distribuição de opiniões válidas. Mas permanece um problema: que conclusões tirar de semelhante informação? Certamente por razões de tempo, a sondagem nada nos diz sobre a composição política, ideológica ou a mera intenção de voto pré-e pós-debate daqueles que nos deram opiniões sobre "quem ganhou". E isto seria crucial para apreciar quaisquer efeitos do debate.

Com medição "pré/pós-debate" poder-se-ia aferir em que medida os inquiridos relatam uma mudança na sua intenção de voto após o debate. E mesmo sem este design mais complicado - que exigiria uma vaga de inquéritos antes do debate e outra depois dele e, provavelmente, não detectaria muitas mudanças declaradas - poder-se-ia pelo menos determinar qual a correlação entre preferências políticas e opiniões sobre o debate.

Por exemplo: se aqueles que declararam ter assistido ao debate Cavaco/Alegre correspondessem ao eleitorado de ambos os candidatos estimado pelas mais recentes sondagens (onde Cavaco tem mais eleitores que Alegre à razão de 3 para 1), um score 27/16 a favor de Cavaco teria sido nada menos que desastroso para o primeiro, dado significar que uma parte significativa daqueles que tenciona(va)m votar Cavaco acharam que Alegre ganhou o debate. Contudo, nada sabemos sobre quem deu opiniões sobre quem ganhou o debate a não ser...quem acham que ganhou o debate.

Por muito que se desejem sondagens, estudos como estes dão uma quantidade de informação insignificante em relação ao custo e esforço que certamente implicam. É certo que produzem um item noticioso, e é provavelmente por isso que são feitas. Mas pouco mais são do que isso. Fazer mais e melhor sai muito mais caro e não creio que os meios de comunicação social portugueses disponham de recursos para tal...

sexta-feira, dezembro 09, 2005

Balão de oxigénio para Bush

Os números de popularidade de George W. Bush mostram sinais de recuperação ou, pelo menos, sugerem que a sangria dos últimos meses se encontra estancada. Para uma análise sistemática dos últimos resultados vale a pena ir aos sítios do costume: aqui e aqui.

P.S.- Só uma pequena correcção ao Acidental, já que este post foi lá citado. Escreve-se ali que "George Bush está em fase de recuperação de popularidade, nomeadamente no que diz respeito à intervenção no Iraque". A primeira parte é correcta, a segunda não sabemos. Enquanto que a primeira resulta da análise de oito sondagens e mostra uma tendência estatisticamente significativa, a segunda resulta apenas da sondagem CBS, onde, de resto, a taxa de "desaprovação" baixou apenas 3 pontos (dentro, por isso, da margem de erro amostral). Desculpem a minudência mas é só porque tem implicações substantivas: na verdade, um factor muito mais plausível para a inversão na tendência de declínio da popularidade de Bush é, tão só, a baixa no preço dos combustíveis...

quarta-feira, dezembro 07, 2005

Um desastre

Para ler e meditar, os resultados de seis sondagens conduzidas na Jordânia, Líbano, Marrocos, Arábia Saudita, Egipto e Emiratos Árabes Unidos, sobre a percepção dos cidadãos acerca das motivações da política externa norte-americana em relação ao Médio Oriente, os planos nucleares do Irão, as perspectivas de democratização na região e outros temas relacionados.

Note-se como é praticamente nulo o capital político de que os Estados Unidos dispõem neste momento para aparecerem, aos olhos dos cidadãos no Médio Oriente, como uma potência benigna capaz de promover a democracia e o bem-estar. Alternativa: a França. Em resumo: um desastre.

Sondagens realizadas pela Universidade de Maryland e a Zogby International, aqui (pdf).

terça-feira, dezembro 06, 2005

Os efeitos dos debates

Nos últimos dias, há que diga que não têm, há quem diga que têm, tudo na base de dados recolhidos com um instrumento de medida habitualmente usado nestes coisas: o "palpitómetro". O "palpitómetro" tem vantagens e desvantagens. Por um lado, é de utilização fácil e e produz resultados imediatos. Por outro lado, esses resultados tendem misteriosamente a coincidir com as preferências políticas e interesses pessoais do utilizador. Mas não se pode ter tudo.

Longe de mim querer desincentivar as práticas tradicionais da cultura opinativa indígena. Contudo, caso haja alguém que tenha a intenção de saber alguma coisa sobre o assunto antes ou depois (de preferência, antes) de usar o "palpitómetro", deixaria aqui uma única sugestão de leitura, relativamente recente e que sintetiza quarenta anos de investigação sobre o tema nos Estados Unidos:

A meta-analysis of the effects of viewing U.S. presidential debates.

Algumas conclusões:

- os efeitos dos debates na percepção das qualidades pessoais dos candidatos são grandes, mas os efeitos na percepção da competência dos candidatos é reduzida. Há quem chame a isto efeitos na percepção dos atributos estilísticos em vez dos atributos políticos*;

- através dos mecanismos anteriores, os debates influenciam o comportamento de voto, especialmente quando as diferenças entre os candidatos do ponto de vista político e ideológico são reduzidas;

- efeitos maiores quando nenhum dos candidatos é o "incumbent" (já que, para este, os eleitores já tiveram tempo para formar uma imagem mais cristalizada).

Pode sempre dizer-se que isto é nos Estados Unidos e não aqui. Mas entre isto e o "palpitómetro", eu arriscava-me a dizer (usando, reconheço, o meu próprio "palpitómetro") que as condições são de molde a que os debates possam ter um efeito não irrelevante nas decisões de voto dos eleitores, tendo em conta:

- as pequenas diferenças ideológicas visíveis entre Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã, por um lado, e Cavaco Silva,Mário Soares e Manuel Alegre, por outro;

- o facto de um dos factores que mais determina a exposição e percepção selectivas - a identificação partidária - ser, apesar de tudo, menos relevante nestas eleições do que nas legislativas;

- o facto de não estar a concorrer um Presidente para reeleição.

P.S. - Para uma bibliografia assustadoramente exaustiva sobre o tema nos Estados Unidos (não conheço nem um vigésimo das referências), ver aqui.

* Nimmo, D. & Savage, R. L. (1976). Candidates and their images: Concepts, methods, and findings. Santa Monica, CA: Goodyear.

Aximage, Presidenciais, 6 de Dezembro

Com a sondagem Aximage/Correio da Manhã divulgada hoje, ficamos com o seguinte quadro:



Nada de novo com as intenções de voto válidas em Cavaco, que exibem uma estabilidade crescente. Cada vez mais estáveis e convergentes são também os resultados de Jerónimo de Sousa (6-5%) e Francisco Louçã (5-4%).

O mesmo não sucede, contudo, com Alegre e Soares. São, como sempre, sondagens em número inferior ao que seria necessário para detectar tendências claras, mas a luta pelo segundo lugar parece estar a ficar cada vez mais renhida, como se verifica no gráfico seguinte onde se apresentam as médias móveis das últimas três sondagens:



Seja como for, análises como esta ou esta, perfeitamente compreensíveis no plano político, parecem contudo não fazer muito sentido em face dos dados disponíveis. Se é verdade que, das oito sondagens divulgadas na comunicação social após a confirmação de todas as principais candidaturas, Alegre aparece à frente de Soares em seis delas, dois desses casos, precisamente os mais recentes, consistem em margens insignificantes (Católica e Intercampus). Mais preocupante ainda para as expectativas dos apoiantes de Manuel Alegre é o facto de, quando olhamos para as sondagens da Aximage ao longo do tempo (mantendo constantes as opções técnicas e metodológicas adoptadas), Alegre passar de uma vantagem de 6 pontos sobre Soares para uma desvantagem de 3.

Em rigor, acho que ninguém pode dizer com segurança quem recolhe, neste momento, mais intenções válidas de voto, Alegre ou Soares. O resto é política. Seria preferível, contudo, que as acusações feitas a responsáveis de institutos de sondagens passassem da insinuação à fundamentação. Ou que, no mínimo, tivessem alguma espécie de congruência com os próprios resultados das diferentes sondagens.