sexta-feira, janeiro 13, 2006

O crente e o céptico (2)

Contudo, o céptico gostaria de recordar algo ao crente: as diferenças entre sondagens ao longo do tempo reflectem não apenas mudanças reais de preferências ou o erro amostral (aleatório), mas também o erro não-amostral, fruto da interacção entre as opções e decisões técnicas dos institutos de sondagens e a realidade que encontram. E uma das maneiras como muitas vezes se encapsula esse erro não amostral é na ideia de um "house effect", ou seja, o facto de o conjunto de opções feitas por um determinado instituto o levar a enviesamentos próprios.

No seguimento disso, o céptico mostra o seguinte quadro ao crente, lembrando-lhe que, nalguns casos, as diferenças entre os resultados médios por institutos de sondagens são tão grandes que não se poderão certamente dever a erro aleatório, resultando apenas do facto de determinados institutos tenderem a "beneficiar" ou "prejudicar" (sem que isso corresponda propriamente a uma intencionalidade) este ou aquele candidato:






O crente responde com as mudanças nas preferências dos eleitores. Mas o céptico diz-lhe que, numa regressão linear que tenha a dimensão da amostra, o nº de dias desde a primeira sondagem e uma dummy para o ano de 2006 como variáveis de controlo, os institutos de sondagens como restantes variáveis independentes e os resultados de Cavaco Silva como variável dependente, quase todas (e apenas) as dummies para os institutos de sondagens são estatisticamente significativas.

Ou seja: que os resultados que as sondagens têm apontado para Cavaco Silva parece ser mais afectados pelo facto de ter sido este ou aquele instituto a fazê-la do que pela passagem do tempo, pela nova fase criada com a entrada do ano de 2006 ou pela dimensão da amostra. E que instituto está a captar melhor a realidade? Que teoria de comportamento político temos para o que está a acontecer? Não sabemos, não podemos ter, diz o céptico.

Sois crentes ou cépticos?

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