quarta-feira, março 22, 2006

Popularidades

Nos Estados Unidos e (em menor grau) no Reino Unido, a avaliação do desempenho do chefe do executivo é seguida com enorme atenção pelos órgãos de comunicação social, pelos agentes políticos e pelos estudiosos da opinião pública, suscitando, por parte destes últimos, o tipo de análises aprofundadas que se podem encontrar aqui ou aqui. Por um lado, isto deve-se ao grande desenvolvimento dos estudos de opinião pública e à enorme quantidade de recursos que nelas são dispendidos. E por outro lado, aos próprios sistemas políticos. Nos Estados Unidos, temos a concentração do poder executivo num cargo uninominal. No Reino Unido, apesar de se tratar de um sistema parlamentar, estamos também perante um dos casos onde a concentração de poder nas mãos do PM e líder do partido é maior entre as democracias ocidentais. Logo, a atenção tende também ela a concentrar-se na pessoa do líder, nas suas qualidades e na avaliação que delas fazem os eleitores.

Em Portugal, o que se sabe sobre o factores que mais afectam o comportamento eleitoral é que a avaliação que os eleitores fazem dos líderes tem enorme impacto na decisão do voto, acima do que seria de esperar com um sistema eleitoral proporcional. Logo, seria de esperar que fosse dada grande atenção aos dados disponíveis sobre essa avaliação. Mas assim não sucede. Os meios de comunicação social encomendam apenas as duas empresas de sondagens - Marktest e Eurosondagem - dados regulares sobre essa matéria, e são raros os estudos disponíveis utilizando esses dados (com a notável excepção do trabalho de dois investigadores da Universidade do Minho, Francisco José Veiga e Linda Veiga).

Quais os dados disponíveis desde a tomada de posse do actual governo. A Marktest, no seu barómetro mensal, coloca a seguinte questão sobre vários líderes políticos:

No caso de [líder]: Em sua opinião diria que a actuação de [líder]) tem sido POSITIVA ou NEGATIVA ?

A formulação concreta da pergunta colocada pela Eurosondagem deverá ser semelhante, ficando contudo a dúvida se é fornecida uma opção intermédia "Assim-assim". Nalguns casos, os quadros publicados no Expresso sugerem que assim é (afirmando-se que as percentagens apresentadas excluem respostas "não sabe/não responde" e "assim-assim"). Noutros casos, essa referência está ausente.

Talvez as diferentes formulações ajudem a explicar as discrepâncias entre os resultados das duas empresas. Nos gráficos abaixo, apresenta-se a evolução ao longo do tempo das percentagens de indivíduos que fazem uma avaliação positiva do Primeiro-Ministro, do Presidente da República e do líder do principal partido da oposição nas duas sondagens desde a tomada de posse do actual governo (agradeço à Marktest o envio dos dados completos; os dados da Eurosondagem foram recolhidos do Expresso; datas correspondem ao último dia de trabalho de campo):



Apesar das discrepâncias nas avaliações de Sampaio serem mínimas, o mesmo não sucede para Sócrates ou Marques Mendes: as sondagens publicadas no Expresso tendem a obter maiores percentagens de aprovação para ambos em comparação com a Marktest.

Dito isto, é tranquilizador verificar que, apesar das discrepâncias absolutas, as tendências que detectam são semelhantes. Descida de Sócrates até às autárquicas, seguida de recuperação (claríssima na Marktest, sugerida na Eurosondagem); subida de Marques Mendes imediatamente após autárquicas, e posterior retorno aos níveis (baixos) de Abril de 2005. Em ambos os casos, e para as últimas sondagens, as taxas de aprovação de Sócrates estão cerca de 20 pontos percentuais acima das taxas de aprovação de Marques Mendes.

Os resultados de Sócrates não estão exactamente na linha do que anteriores estudos sobre as funções de popularidade poderiam sugerir. No passado, a popularidade do PM tendeu a diminuir com o aumento do desemprego, especialmente quando o seu governo dispunha de maioria absoluta. E diminuia também assim que se ultrapassava o período inicial de seis meses de "lua de mel". Mas não é bem isso que parece estar a ocorrer. Com o desemprego a aumentar de 7,5% para 8% do primeiro para o último trimestre de 2005 e ultrapassada a "lua de mel", Sócrates quase regressa aos níveis de popularidade de que gozava imediatamente no início do ciclo. Aumenta assim a curiosidade em relação ao que as próximas sondagens dirão: será a recuperação de popularidade dos últimos meses para durar, ou uma fugaz anomalia em relação à tendência de descida que se iniciou logo após a tomada de posse? Logo se verá.

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