segunda-feira, março 24, 2008

Outlier: O Museu Broad

Com as leituras atrasadas, só agora cheguei a um artigo da NYRB sobre um novo museu integrado no Los Angeles County Museum of Art (LACMA), o Broad Contemporary Art Museum. "Broad" (lê-se como "road") é o nome de um senhor chamado Eli Broad, um bilionário americano que fez fortuna com negócios imobiliários e com forte pendor para a filantropia. O senhor Broad e a sua mulher Edythe têm uma colecção de arte contemporânea muito boa (ou pelo menos com coisas muito caras de nomes muito conhecidos), sendo que a maior parte das peças pertence a uma fundação com o seu nome, cuja missão consiste em emprestar arte contemporânea a museus públicos. So far so good.

Sucede que o senhor Broad achou que seria ainda melhor se tivesse um local onde pudesse mostrar em permanência muitas das suas valiosas peças. Deu então 56 milhões de dólares (cerca de 1% da sua fortuna) ao LACMA, instituição a cujo board of directors já pertencia, para construir um novo museu, com o seu nome, desenhado por um arquitecto por si escolhido (Renzo Piano). Entretanto, a directora do LACMA foi ejectada da instituição, ao que parece devido a conflitos com...Broad. A coisa construiu-se, e Broad comprometeu-se a gastar mais 10 milhões em aquisições.

Contudo, um mês antes da inauguração, o senhor Broad anunciou que, afinal, em vez de doar as obras ao LACMA, vai apenas emprestá-las, ao abrigo do modelo genérico que já tinha adoptado para a sua Fundação, sendo que todos os custos de operação são a cargo do LACMA, ou seja, dos contribuintes californianos. No NYRB, a coisa comenta-se assim:

The Los Angeles County Museum of Art receives substantial public funds and many of its staff members are civil service employees of Los Angeles County. Thus the parties who acceded to Broad's de facto privatization of a big chunk of LACMA—the cultural equivalent of a leveraged buyout, or taking a public company private—have done a grave disservice to the taxpayers of the county, who, whether they like it or not, will be footing the bill for much of Broad's monument to himself. It has long been customary for benefactors rich enough to have a museum named after them to provide an endowment for the upkeep of the building in perpetuity. The annual expense of such unglamorous necessities as utilities, cleaning, maintenance, guards, liability insurance, and other carrying charges is so daunting that many collectors who fantasized about founding a private museum have fallen into the arms of established institutions once they realized what autonomy would cost them. Strange as it may seem to those unfamiliar with the ways of American museums, art world veterans agree that Eli Broad pulled off an enviable deal for approximately $60 million.

Ao que parece, o edifício está muitos furos abaixo de anteriores museus de Renzo Piano. E a opinião do NYT sobre a exposição é a que se pode ler abaixo:

The works are intended to reflect the Broads’ penchant for collecting in depth. But the accumulation reads foremost as a display of pricey trophies, greatest hits of the present and recent past.

Enfim, coisas que acontecem muito longe daqui.

Obama e o Pastor, 2

Começa a formar-se um consenso nos analistas sobre uma mudança na campanha, como consequência do caso Wright. Leiam-se os títulos ou passagens dos artigos (e também os próprios, de preferência):


So Much for the "Post-Racial" Candidate

Wright Has Altered the Dem Race

Ou até a descoberta de que:

Racial Problems Transcend Wright

E etc. Tudo isto, claro, coexiste com muitas outras análises que sugerem a impossibilidade de uma vitória de Clinton:

Her own campaign acknowledges there is no way that she will finish ahead in pledged delegates. That means the only way she wins is if Democratic superdelegates are ready to risk a backlash of historic proportions from the party’s most reliable constituency. Unless Clinton is able to at least win the primary popular vote — which also would take nothing less than an electoral miracle — and use that achievement to pressure superdelegates, she has only one scenario for victory. An African-American opponent and his backers would be told that, even though he won the contest with voters, the prize is going to someone else. People who think that scenario is even remotely likely are living on another planet.

O que dizem as sondagens? Várias coisas importantes:

1. Nas preferências nacionais dos Democratas, Obama ainda lidera, mas Clinton recupera nos últimos dias.

2. O cenário para as próximas primárias parece fundamentalmente inalterado. Clinton é favorita na Pennsylvania e em West Virginia, enquanto Obama é favorito na Carolina do Norte. Mas aqui - muito importante - a coisa já esteve menos tremida (vejam as sondagens mais recentes) e falta muito tempo.

3. Independentemente disto, como se sabe, ninguém terá a maioria dos delegados. São os superdelegados que decidem. Quem vai ter a maioria dos delegados eleitos (Obama, certamente) e/ou a maioria dos votos (Obama ou Clinton, a grande questão) pode ser o argumento.

4. E a elegibilidade de Obama sofreu, nos últimos dias, um abalo. Nas sondagens nacionais, Clinton bate McCain (por uma unha negra) mas McCain bate Obama (por uma unha negra também).

Mesmo se for verdade que Obama já não pode perder a nomeação Democrata (um grande "se"), então também é verdade que, para McCain e os Republicanos, o aparecimento de Wright foi a melhor coisa que lhes poderia ter acontecido. Mas claro, a ideia de que este candidato poderia ser "pós-racial", particularmente nos estados do Sul, já tinha sido desmontada há algum tempo (ver ponto 1).


quarta-feira, março 19, 2008

Cinco anos amanhã


Fonte: Gallup





Obama e o Pastor

A história é conhecida: divulgadas as declarações do padre da paróquia onde Obama pertence, Obama distanciou-se do conteúdo, mas não da personagem. Em que ficámos? A CBS tem uma sondagem. A maioria diz não ter mudado de opinião sobre Obama. Entre os que mudaram, a mudança é negativa, mas é difícil dizer que isto produz efeitos relevantes. Entre os Democratas, ainda fez menos diferença.

E no entanto:

A tendência já vinha de trás. Mas a sondagem Rasmussen mais recente tem más notícias para Obama.

May Boris be With You

E em Maio, a Câmara de Londres. Boris Johnson, MP, partiu de trás mas está neste momento à frente nas sondagens, em parte, sem dúvida, devido ao apoio dos motociclistas e aos feridos da Guerra do Iraque.Quatro anos de divertimento garantido, é o que é.

Itália

A 13 de Abril haverá eleições legislativas em Itália, dois anos depois das últimas, ganhas por uma unha negra pela Unione liderada por Prodi. Mas a coligação mal resistiu em 2007 a uma votação sobre o envio de mais tropas para o Afeganistão, um mero sintoma, de resto, de problemas muito mais profundos, que se confirmaram na derrota na moção de confiança em Janeiro passado.

Desta vez é Berlusconi contra Walter Veltroni, líder do Partido Democrático. Veltroni quebrou a coligação e reconstituiu um outra, em versão reduzida, desta vez com os Radicais e a o partido de Di Pietro. Os comunistas e os verdes fizeram a sua própria coligação, La Sinistra - L'Arcobaleno (é bonito). Berlusconi lidera um partido de designação não menos encantadora: Popolo delle Libertá. Nem vou fazer de conta que percebo um décimo desta confusão e do que está por detrás dela.

Mas há sondagens, todas depositadas aqui. Há 16 sondagens até agora neste mês de Março. A soma das percentagens do PD (Veltroni)+IV (Di Pietro) anda, em média das sondagens realizadas em Março, pelos 36,7%, enquanto a média da soma das percentagens do PdL, Liga Norte e MPA (a coligação Berlusconi) anda pelos 43,9%. Tudo muito estável. No Economist, sofre-se:

The Economist Intelligence Unit now expects Silvio Berlusconi to be Italy's next prime minister. His coalition is still largely intact, which means he is likely to win the bonus seats under the existing electoral laws. His government is likely to be at least as unstable and ineffective as his previous one (2001-06), which did little to reform the economy.

Pois.

segunda-feira, março 10, 2008

Espanha

Um vírus (não informático) ou outro bicharoco qualquer que atacou metade da família (a minha metade) nos últimos dias impediu-me de dar a justa atenção ao caso das eleições espanholas. Constato, contudo, que do ponto de vista dos resultados, acabou por não suceder nada que obrigasse a uma revisão disto. E que do ponto de vista da sua interpretação política, não aconteceu nada que me leve a rever isto. O PP não parece ter perdido tanto como merecia, ou tanto como precisava, para se poder renovar e abrir espaço para figuras como esta. Mas vamos ver os próximos dias: pode ser que me engane.

P.S.- Nos órgãos de comunicação social portugueses, a precipitação habitual quando se trata de interpretar as sondagens estrangeiras. De que parlamento com menos de 350 deputados estavam a falar as pessoas que escreveram isto ou isto?

quarta-feira, março 05, 2008

Famílias

Das duas uma: ou depois de quatro anos a escrever nos jornais ainda ninguém faz a mais pequena ideia sobre qual é a minha"família" política; ou esse é um assunto que não interessa a ninguém. Inclino-me para a segunda hipótese.

Clinton

O meu dedinho, que se bem se recordam tem em risco a sua ligação à minha mão à conta de uma previsão apressada, respirou de alívio, pelo menos para já. Clinton ganhou TX, OH e RI, e tem apenas menos 300.000 votos e 130 delegados que Obama. Tem-se dito que os superdelegados - que, já se sabe, vão ser decisivos -votarão com a maioria. Certo. Mas a maioria de quê: votos ou delegados eleitos?

segunda-feira, março 03, 2008

Popularidade Líderes Políticos Fevereiro 2008

A Marktest deixou, aparentemente, de trabalhar para a parceria DN/TSF, mas continua a conduzir o seu barómetro político, cujos resultados podem ser consultados aqui. Saiu também, entretanto, uma sondagem da Eurosondagem. A evolução da popularidade dos líderes dos dois principais partidos e do PR é apresentada nos gráficos seguintes (saldo % opiniões positivas-% opiniões negativas). As linhas são curvas de regressão local, à excepção de Menezes (insuficientes observações):




Nem tudo o que está aqui é congruente entre si (permanece a enorme discrepância entre Mkt e Euro no que respeita ao PM) ou com os resultados do último estudo do CESOP. As convergências são:
1. Cavaco paira sobre os líderes partidários;
2. Avaliação de Menezes degrada-se.

As dúvidas:
1. Avaliação de Sócrates maioritariamente positiva (Eurosondagem) ou negativa (CESOP, Marktest)?
2. Sócrates melhor (Eurosondagem, CESOP) ou pior (Marktest) avaliado que Menezes?
3. Sócrates estável ou recupera desde Outubro (Eurosondagem, CESOP) ou continua a declinar (Marktest)?

Note-se que os resultados do CESOP não são directamente comparáveis com os outros, porque no questionário se pede aos inquiridos que façam uma avaliação de 0 a 20 para os líderes, enquanto que os restantes perguntam se avaliam positiva ou negativamente a sua actuação.